- Texto:
- Como uma rapariga descalça a noite caminhava leve e lenta sobre a relva do jardim. Era uma jovem noite de Junho. E debruçada sobre o tanque redondo ela mirava extasiadamente o reflexo do seu rosto.
Do jardim via-se a casa, uma casa grande cor-de-rosa e antiga que, toda iluminada nessa noite de festa, espalhava no jardim luxes, brilhos, risos, música e vozes. A luz recortava o buxo dos canteiros e a música misturava-se com o baloiçar das árvores.
Pelas janelas abertas avistavam-se pares dançando e vestidos claros de raparigas, vestidos que flutuavam entre os passos e o os gestos. Vultos de namorados passavam entre as cortinas e vinham apoiar-se no peitoril das janelas, inclinados sobre a noite. Às vezes um riso mais agudo cortava, como um pequeno punhal, a água lisa dos tanques.
Vistas do jardim essas coisas pareciam feéricas e irreais. Delas subia, perante a alegria serena da noite, uma alegria rápida e agitada, desgarrada e passageira, um pouco triste e cruel.
Glossário:
- mirava: encarava; observava; espreitava.
- extasiadamente: em êxtase; maravilhosamente.
- buxo: planta arbustiva que fornece madeira muito dura.
- peitoril: parte inferior da janela que serve de apoio às pessoas.
- feéricas: relativo a fadas; mágicas; fantásticas; encantadoras; maravilhosas.- desgarrada: sem amarras
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